quarta-feira, fevereiro 13, 2019

Como eu imagino você

O corredor parecia imóvel mesmo com tantos quadros de tintas vivas em curvas surrealistas.Dalí e Magritte dedicam um momento real aonde eles são pendurados, como se o entorno fizesse parte deles, e não o contrário.As molduras convencionais me prenderam na reflexão de que motivador fez o dono daquelas paredes dar barroco ao modernismo?Eram molduras douradas de tom puído e amadeirado criando fronteiras à espontaneidade das cores.Foi quando ele entrou A porta parecida saber seu ritmo ideal pois abriu e fechou sem parecer que ele ao menos houvesse tocado.Os passos firmes e postura incombatível prenderem minha atenção até que eu mesma percebesse que a devia soltar.A estatura era o menos importante perto do ar urgente que a sua presença se fazia ali.Ele sorriu, em mergulho nos meus olhos, sorriu.Não pensei que pudesse ter sido decifrada.Naquele momento, eu ainda era intransponível.Até aquele, cósmico e sensível, eu ainda era intransponível.Sem que eu mesma percebesse, a intimidade daquele olhar me decorava por dentro.Cortês, fez sinal com a cabeça à recepcionista e desapareceu por poucos instantes.Disfarçar minha curiosidade se fazia menos importante do que sentir cada passo no piso de parquet.E não, eu não media esforços para conter ao menos semblante de curiosidade.Em um reaparecimento esperado, ouvi meu nome da forma mais tocante e avassaladora possível.A VOZ,QUE VOZ!Ali, eu já estava entregue sem nem mesmo entender razão por tal, quiçá me sentir compreendida por minha própria consciência.Talvez entregue à sensação desconhecida pelo que já me soava íntimo.Meu pé direito saiu à frente, adentrando em sua sala branca, límpida, iluminada pelo dia ensolarado que fazia lá fora através das percianas totalmente abertas.As orquídeas pouco chamaram minha atenção em comparação à àrvore da felicidade que ele mantinha em um vaso de pintura oriental que se destacava incrivelmente.Me estendeu às mãos, e num ato expresso de reciprocidade elogiei a ênfase em manter ali, tão bem cuidada e expandida, símbolo de harmonia e sorte.- Para que assim fosse, precisaria ter ganhado, por ímpeto eu mesmo comprei.Solene, a voz ainda foi capaz de me desparar rumo à total recordação de algo que eu nem fazia ideia do que era. Retruquei:- Para que faça ainda mais jus ao símbolo, que seja fêmea, pois esta é a macho.Iniciamos uma conversa a qual parecida não pertencer mais à corpos, físicos.O Cosmos possuíra a força das palavras e sem que eu mesmo percebesse, ele me atentou para como o sol entrava firmemente pela janelacriando um eixo de luz difusa acima de nossas mãos, exatamente acima de como elas se posicionavam sob a mesa.  A forma que ele me olhava me causava repetidos sinais de que era exatamente onde e como eu deveria estar. O contentamento era recíproco.Risos, sorrisos, e o consultório se tornou parte de uma nova realidade que antecipadamente eu já sabia ser não só minha, mas plural.Haviam-se passado 3 horas, e a consciência trouxe em mim trabalhos que ainda havia por fazer, apesar de em nenhum momento ter me apreendido ao fato dos ponteiros girarem.Ao notar que retornei à realidade, ele tocou minhas mãos.   - Para todo presente, existe um passado perfeitamente moldado ao futuro.E ali notei o motivo das molduras. Levantei-me e ao sair pela porta me virei, Sorri, leve e compreendida.