quinta-feira, setembro 12, 2019

De grão em grão.



Decorada do primeiro momento após voltar para casa,
Sozinha, 
Na varanda silenciosa e ensolarada,
Dei-me conta dos sentimentos que influíam de mim.

Da semente à mente, os pensamentos que já tomavam conta, prenúncio e cenário.
Eram a extensão das lembranças do teu peito colado no meu. 
De madrugada a madrugada, 
de grão em grão, 
de vida em vida.
Sem que quisesse afastar por um segundo de ti, o fardo do desejo da carne. 
E vagamente beijar-te em nome do carinho mais agradecido.
Do espírito mais reconhecido.

Olhei para as curvas dos meus braços às montanhas, 
curvas estas que obstruíam o céu,
Me impedindo de olhar adiante, ao horizonte, e ver-te, recostado no sofá naquele instante, há 400 quilômetros dali.
O rosto impassível continha sua serenidade, germinada de golpe em golpe, 
de grão em grão, 
de vida em vida.

Senti uma vontade insaciável de lutar ao seu lado, para tudo, lado alado.
Lutar por você e pelo seu passado, 
Em prol de toda oriunda bagagem.
Lutar em você, 
Tendo como início os seus lábios colados aos meus.
Lutar para a leveza, que, estampada em seu rosto, nunca pudesse ser desmanchada.
Lutar pela coragem, que, dominador de tamanha, tanto me inspira.
Lutar assim como luto pela Verdade, de deserto em deserto, 
de grão em grão, 
de vida em vida.

Estremeci, as mãos frias, trêmulas, tornavam ainda mais presente a sensação, e os momentos em que ela me faltava.
Senti a angústia do regresso. 
O regresso que já morava em meus olhos.
Pairando entre meu corpo e o restante do mundo, sem sentir-me no direito de fazer parte de nenhum dos dois espaços, de nenhum dos dois tempos, de nenhum dos...dois.
E ainda assim, pude sentir a alegria do meu destino, que é morar no teu destino.
De origem a origem, 
de grão em grão,
de vida em vida.